Política
Publicado em 15/09/2025, às 18h45 Foto: Divulgação/JetBlue Marcela Guimarães
Enquanto se preparava para pousar em Porto Rico, Florence Chesson, comissária de bordo da companhia aérea JetBlue, percebeu um cheiro estranho dentro da cabine.
“Você sente esse cheiro?”, perguntou a uma colega. Respirando fundo, respondeu: “Cheira a pés sujos”. Poucos minutos depois, começou a sentir os primeiros sinais de que algo estava fora do normal.
Quando o avião voltou a decolar rumo a Boston, a situação piorou. Durante o serviço de bordo, uma tripulante correu para a parte traseira da aeronave sufocada, dizendo não conseguir respirar, e passou a vomitar.
Outra precisou receber oxigênio de emergência. Assim que aterrissaram, as duas foram encaminhadas ao hospital, uma delas em uma maca.
Chesson também relatava sintomas como suor intenso, gosto metálico na boca e confusão mental. “Eu me senti como se estivesse falando bobagens”, contou em entrevista. “Lembro-me de ser muito repetitiva, dizendo: ‘O que aconteceu comigo? O que aconteceu comigo?’”.
Meses depois, seu estado piorou. Exames apontaram traumatismo cranioencefálico e danos permanentes ao sistema nervoso periférico, resultado da inalação dos vapores tóxicos.
O neurologista Robert Kaniecki afirmou que os efeitos em seu cérebro eram equivalentes a uma concussão química, “extraordinariamente semelhantes” aos de um jogador de futebol americano após um impacto violento.
O especialista comentou que já havia tratado cerca de uma dúzia de pilotos e mais de 100 comissários de bordo com lesões neurológicas associadas à exposição a vapores em aeronaves. Em 2023, até um passageiro frequente da Delta relatou problemas como este.
O caso de Florence faz parte de milhares de registros conhecidos como “eventos de fumaça”, reportados à Administração Federal de Aviação (FAA).
Nessas situações, vapores tóxicos vindos dos motores invadem a cabine; isso ocorre por causa de um sistema chamado bleed air, no qual parte do ar respirado a bordo é captado pelos motores e redirecionado para dentro da aeronave.
Segundo uma investigação do The Wall Street Journal, os incidentes seguem crescendo, principalmente em modelos da família Airbus A320, justamente o avião envolvido no voo da comissária.
A apuração analisou mais de um milhão de relatórios da FAA e da NASA, documentos oficiais e entrevistas, revelando que fabricantes e companhias aéreas minimizaram os riscos, pressionaram contra medidas de segurança e tomaram decisões que aumentaram a exposição da tripulação e dos passageiros.
Em condições normais, cerca de metade do ar respirado durante um voo é puxado de fora, passa pelos motores e se mistura com o ar recirculado.
Com o desgaste de vedações internas, óleo dos rolamentos e até fluido hidráulico podem vazar, vaporizar em altas temperaturas e liberar substâncias neurotóxicas, monóxido de carbono e outros compostos.
Esse ar contaminado é direcionado para o sistema de ar-condicionado antes de chegar à cabine e ao cockpit.
Máscaras de oxigênio comuns não são capazes de filtrar os elementos tóxicos, deixando passageiros e tripulantes expostos, o que levanta um alerta.
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