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A infidelidade masculina no Brasil é uma realidade preocupante: estudos conduzidos pela plataforma Gleeden indicam que até 91% dos homens já traíram em algum relacionamento, colocando o país como líder em infidelidade na América Latina.Por isso, programas de televisão sobre fidelidade são famosos e na internet não seria diferente.
Em entrevista para O Globo, a influenciadora Bianca Santos, de 22 anos, começou a oferecer o serviço após se inspirar em outros perfis no TikTok. Hoje, é sua ocupação principal. Ela realiza até 30 testes por mês, cobrando entre R$ 40 e R$ 100 por cada investigação, que pode envolver mensagens, áudios e videochamadas. Em alguns casos, organiza encontros presenciais, mas quem participa é sempre a contratante. Bianca usa suas próprias fotos e troca chips constantemente para não ser rastreada por parceiros furiosos.
— Já fiz teste até para minha dentista. Teve noivo que caiu dias antes do casamento e a cerimônia foi cancelada — conta Bianca, lembrando que a maioria dos pedidos vem de mulheres desconfiadas.
Outra influenciadora, Luiza Bertoncello, de 27 anos, iniciou em 2019 testando o próprio namorado. Depois, amigas passaram a pedir sua ajuda, e surgiu a oportunidade de monetizar o serviço. Atualmente, ela cobra até R$ 250 por teste e lidera uma equipe com 20 mulheres. Segundo ela, apenas 4% dos homens testados são fiéis.
— O objetivo não é destruir relações, mas revelar o que já existe — afirma Luiza.
Relatos de clientes reforçam a eficácia do serviço. Uma dentista de 25 anos, que prefere não se identificar, contratou Luiza ao notar mudanças no comportamento do namorado. Durante um jantar, deixou um bilhete com o contato da influenciadora. No dia seguinte, ele confessou a traição.
— Me livrei de um manipulador. Indico para todo mundo — comenta a profissional.
Além delas, há influenciadores como Junior Araújo, conhecido como Fiscal da Galha, que realiza até 30 testes por mês, cobrando R$ 50 por dia de conversa, e Pablo Loyo, com mais de 3 milhões de seguidores, que publica os resultados gratuitamente em vídeos que ultrapassam 1 milhão de visualizações.
— O sucesso vem porque o público gosta de ver que tem gente mais ferrada que eles — brinca Pablo.
João Kleber reconhece o modelo virtual, mas alerta:
— A internet abre possibilidades, mas também ilusões. O teste tradicional tem emoção, olho no olho. É mais intenso.
Apesar da popularidade, os testes exigem cuidado. Há relatos de golpes, como cobranças sem prestação de serviço ou uso indevido de dados. Segundo o advogado Fabio Manoel, embora os testes não sejam ilegais, podem se tornar caso de polícia se houver constrangimento, perseguição ou exposição indevida.
A coordenadora do departamento de novas tecnologias e direito penal do IBCCRIM destaca os riscos de divulgar os resultados nas redes:
— É possível falar em difamação; e caso haja compartilhamento de fotos, vídeos ou nudes sem consentimento, caracteriza crime.
Sabrina de Cillo, da agência SPC do Amor, especializada em investigações conjugais, avalia que a investigação por detetive continua sendo a forma mais confiável de descobrir uma traição:
— O teste virtual não é confiável, pois induz comportamentos artificiais.
A psicóloga Giselle Barreto, especialista em casais, reforça que os testes não resolvem os dilemas da fidelidade:
— Eles geram falsa sensação de controle, dilemas éticos e emocionais, aumentam a vigilância e as suspeitas infundadas, corroendo o que realmente sustenta a relação: comunicação e honestidade.
Classificação Indicativa: Livre