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Tetraplegia ganha esperança: medicamento brasileiro experimental mostra resultados

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A administração rápida do fármaco e a fisioterapia imediata são fundamentais para a recuperação de movimentos em pacientes tratados.  |   BNews SP - Divulgação Foto: Reprodução/Freepik
Fernanda Montanha

por Fernanda Montanha

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Publicado em 10/09/2025, às 10h08



Um pequeno fragmento da placenta, geralmente descartado após o parto, pode abrir caminhos inéditos para a recuperação de movimentos em pessoas com lesões na medula espinhal.

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) identificaram na laminina, uma molécula pouco estudada, capacidade de regenerar neurônios e estimular a restauração das funções motoras perdidas.

Para transformar essa descoberta em tratamento, a UFRJ se associou à farmacêutica brasileira Cristália e desenvolveu o medicamento experimental Polaminina. Desde 2018, o fármaco é aplicado em seis pacientes com lesões completas, chamadas nível A, em que há perda total da sensibilidade e da movimentação.

Como funciona o tratamento

O protocolo consiste na administração do medicamento diretamente na medula, dentro de até seis dias após o acidente. Doses minúsculas — de apenas um micrograma por quilo — visam restabelecer a comunicação entre cérebro e corpo, interrompida pela lesão, que pode resultar em paraplegia ou tetraplegia.

A laminina é estudada há 25 anos pela professora Tatiana Coelho de Sampaio, da UFRJ. “É uma molécula de funções primitivas”, afirma. “Está presente até em esponjas marinhas.” Ela age como uma teia tridimensional, promovendo sobrevivência celular, migração neuronal e regeneração. Segundo a pesquisadora para a Veja, “antes da aplicação, havia menos neurônios; depois, eles proliferaram”.

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Resultados promissores em pacientes

Dos seis pacientes, cinco evoluíram do nível A para o nível C, recuperando força e movimentos. Um caso emblemático é Bruno Drummond, que aos 23 anos perdeu totalmente o controle de braços e pernas após acidente. “No primeiro mês, mexi apenas o dedão do pé. Hoje caminho normalmente e quase todos os movimentos dos braços foram recuperados”, relatou.

Sampaio destaca que a rapidez da aplicação — nas primeiras 24 horas — e a fisioterapia imediata foram determinantes para o sucesso do tratamento. Efeitos colaterais graves ainda não foram observados, embora dores e constipação possam ocorrer devido à gravidade das lesões, não ao fármaco.

Limites e próximos passos

O estudo ainda é inicial e não permite afirmar que o tratamento funcione para todos. Questões como doses ideais, aplicação em lesões antigas e duração dos efeitos permanecem sem resposta. Estudos em pacientes crônicos, como o caso de Hawanna Cruz, mostram progresso limitado, mas significativo.

O próximo passo será a fase 1 de ensaios clínicos, aguardando aprovação da Anvisa para testar segurança em voluntários. Somente depois, com amostras maiores e comparação com placebo, será possível avaliar a eficácia real do medicamento. Pesquisadores estimam cerca de três anos até a possível disponibilidade, considerando todas as etapas regulatórias e testes clínicos.

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