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Após uma longa mobilização da comunidade local, uma indústria de materiais para isolamento térmico e acústico localizada em Santo Amaro, na zona sul da capital paulista, terá sua atividade fabril encerrada.
A decisão põe fim a um histórico de conflitos entre moradores e a empresa, motivados por denúncias de poluição atmosférica e sonora.
O fechamento da unidade industrial é resultado de um Termo de Ajuste de Conduta firmado no dia 22 entre a Saint-Gobain, por meio da marca Isover, o Ministério Público de São Paulo e a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, segundo o Estadão.
O acordo estabelece prazos claros para o encerramento das operações mais poluentes, marcando uma mudança significativa para a região.
Moradores do entorno relatam há anos a convivência com episódios frequentes de fumaça densa, odores fortes e barulho constante, inclusive durante a madrugada. Segundo os relatos, a rotina era marcada por desconforto contínuo e sensação de insegurança quanto à saúde.
Entre os principais sintomas apontados estão dificuldade respiratória, irritação nos olhos, ressecamento da pele e incômodo provocado pelo ruído noturno. A percepção de que o problema se prolongava sem solução aumentou a pressão popular, levando a comunidade a buscar apoio dos órgãos públicos.
Com a assinatura do TAC, a produção de lã de vidro deverá ser encerrada até 4 de julho de 2026. Já o forno de fusão de vidro, considerado a principal fonte das emissões atmosféricas, terá seu funcionamento interrompido até o dia 31 do mesmo mês.
Após o fim da atividade industrial, o espaço não será totalmente desativado. A área continuará funcionando exclusivamente como centro de distribuição dos produtos, que abastecem setores como construção civil, indústria automotiva, agronegócio e data centers. A mudança reduz significativamente o impacto ambiental na região, segundo as autoridades envolvidas.
Em nota oficial, a Isover confirmou a assinatura do acordo e o cumprimento dos prazos estabelecidos. A empresa afirma operar no local há mais de sete décadas e sustenta que sempre atuou em conformidade com a legislação ambiental e normas de saúde e segurança.
A companhia também informou que implementou um Plano de Melhoria Ambiental, com investimentos em isolamento acústico, tecnologias para redução de emissões e canais de diálogo com a comunidade. Mesmo assim, reconhece a necessidade de encerrar a produção no local, diante das exigências do TAC.
Segundo a empresa, o período de seis meses até o encerramento total das atividades será utilizado para mitigar os impactos sociais da desativação. A medida afeta mais de 100 famílias de trabalhadores diretos, além de um contingente expressivo de profissionais indiretos.
O acordo também determina que a empresa realize a gestão adequada de eventuais áreas contaminadas, incluindo o tratamento e descarte correto de resíduos. O futuro da área ainda será debatido entre autoridades, moradores e representantes da empresa. A discussão sobre o uso do espaço deve se tornar um novo capítulo do processo.
O caso ganhou força em março de 2023, quando moradores protocolaram uma petição junto à Cetesb solicitando a suspensão das emissões poluentes. A partir dessa iniciativa, o Ministério Público passou a investigar a atuação da indústria.
Nos meses seguintes, foram realizadas audiências públicas e reuniões com órgãos municipais e estaduais. Em uma delas, ocorrida em junho na Câmara Municipal, moradores relataram que a fábrica operava de forma contínua, inclusive durante a madrugada, liberando fumaça e odores intensos pela chaminé.
Para a vereadora Renata Falzoni, uma das principais articuladoras do processo, a decisão representa um avanço importante. Segundo ela, a desativação da fábrica melhora diretamente a qualidade de vida da população local e reforça o compromisso da cidade com a saúde pública e a qualidade do ar.
Nos últimos dois anos, a Cetesb aplicou multas e advertências à empresa por irregularidades relacionadas à emissão de odores e ruídos, o que contribuiu para o desfecho do caso.
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