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Dieta bíblica: como funciona método que viralizou e promete emagrecimento de até 14kg por mês

Método religioso que promete emagrecer com jejum e versículos chama atenção nas redes, mas especialistas alertam sobre os perigos reais  |  Reprodução/

Publicado em 24/06/2025, às 15h05   Reprodução/   Bianca Felix

Com a promessa de eliminar até 14 kg em apenas 30 dias, a chamada “dieta bíblica” tem atraído mulheres cristãs nas redes sociais ao unir jejum, leitura de versículos e práticas espirituais. Embora o método tenha ganhado popularidade entre influenciadoras e perfis religiosos, médicos e nutricionistas apontam os riscos envolvidos. 

Criado por Angelita Kayo, teóloga responsável pela mentoria “Biblicamente Magra”, o programa reúne mais de 3 mil participantes. Ele se baseia na ideia de que a obesidade tem raízes espirituais e emocionais, e que a transformação começa com restauração interior. A proposta inclui jejuns, exclusão de açúcar, massas e refrigerantes, tarefas devocionais e reflexão diária com versículos.

Em entrevista ao UOL, Angelita afirma que seu próprio processo de emagrecimento foi guiado pela fé. Para ela, o prato representa um altar onde a escolha alimentar é vista como sacrifício e obediência a Deus. “A obesidade nasce na alma, não na geladeira”, defende. Segundo ela, o foco está no controle emocional e no domínio próprio: “Aqui a balança não manda. Quem governa é o Espírito Santo”. 

Riscos à saúde preocupam especialistas

Apesar do apelo religioso, especialistas em saúde alertam que perder 14 kg em um mês sem acompanhamento pode ser perigoso. O endocrinologista Rafael Fantin ressalta que esse ritmo contraria diretrizes de emagrecimento seguro e pode causar desidratação, desequilíbrio hormonal, queda de imunidade e até arritmias cardíacas.

A nutricionista Samara Pinheiro também chama a atenção para os riscos de deficiências nutricionais, perda de massa muscular e distúrbios alimentares. Segundo ela, a associação entre fé e emagrecimento pode provocar culpa, ansiedade e compulsão, especialmente entre mulheres vulneráveis.

Outras propostas similares

Seguindo a mesma linha, a autora Kesia Araújo criou o método “Emagreça à Luz da Palavra”, que propõe uma mudança de hábitos baseada na fé cristã. O programa usa um caderno devocional para anotar gatilhos emocionais ligados à alimentação e refletir sobre versículos. Kesia também relaciona neurociência à espiritualidade e destaca a importância do autoconhecimento. Ela reforça, no entanto, que não prescreve dietas nem substitui orientação profissional.

Teólogos criticam uso da Bíblia como ferramenta de emagrecimento

O teólogo Rodrigo Moraes considera a associação entre fé cristã e perda de peso uma distorção da mensagem bíblica. “A Bíblia é pão da vida, não balança de aprovação”, afirma. Para ele, textos como Provérbios 23:7 e Isaías 58 são tirados de contexto para justificar práticas que não têm base nas Escrituras.

Moraes destaca que transformar a fé em produto voltado ao emagrecimento, especialmente para mulheres em situação de vulnerabilidade, é eticamente grave. Segundo ele, o foco do evangelho está na justiça, na liberdade e no cuidado com os necessitados.

Apesar da popularidade da “dieta bíblica”, a recomendação dos profissionais é clara: qualquer método de emagrecimento deve ser baseado em orientações médicas e nutricionais seguras, respeitando os limites do corpo e da mente.

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