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Conheça o bairro de SP criado para concentrar a prostituição

O modelo francês de confinamento da prostituição influenciou a criação do Jardim Itatinga, reforçando a segregação urbana.  |  Reprodução/ G1

Publicado em 17/07/2025, às 10h00   Reprodução/ G1   Gabriela Teodoro Cruz

Criado durante a ditadura militar, o Jardim Itatinga, na zona sudoeste de Campinas (SP), é um bairro com um histórico singular: foi planejado pelo poder público, nos anos 1960, para concentrar a prostituição em uma área afastada dos centros urbanos. Localizado entre as rodovias dos Bandeirantes e Santos Dumont, o território foi desenhado para isolar as atividades sexuais remuneradas da chamada “moral familiar” e da rotina cotidiana da cidade.

O modelo francês inspirou política de confinamento...
Inspirado no modelo regulamentarista francês que tratava a prostituição como um “mal necessário” a ser confinado, o projeto refletia uma política de higienização social. Com casas de diferentes tamanhos destinadas a profissionais do sexo e seus clientes, o Itatinga tornou-se símbolo de uma segregação urbana institucionalizada. O controle sobre o corpo feminino se intensificou com práticas como o fichamento em delegacias e exames ginecológicos obrigatórios, mesmo quando essas medidas já estavam abolidas em outras cidades do estado.

O urbanismo reforça exclusão e estigma social
A arquiteta e urbanista Diana Helene Ramos, autora do artigo “Preta, pobre e puta: a segregação urbana da prostituição em Campinas”, aponta que a cidade foi estruturada a partir de uma divisão nítida entre norte e sul, separados pela antiga linha férrea da Fepasa. De um lado, os bairros mais valorizados; de outro, regiões marcadas pela presença de indústrias, ocupações informais e, entre elas, o Itatinga. O traçado urbano reforça a ideia de um território “desviante”, alimentando o estigma sobre quem vive e trabalha ali.

Resistência no centro da cidade
Apesar disso, muitas prostitutas seguem atuando no centro de Campinas como forma de resistência ao isolamento imposto. A partir de 2007, com a criação da Associação Mulheres Guerreiras, um grupo de trabalhadoras do sexo passou a ocupar pontos estratégicos da região central, criando uma rede de apoio e negociação com comerciantes e frequentadores locais. Com orgulho de suas identidades, elas defendem o direito à cidade e contestam a marginalização dos seus corpos e profissões.

Quadrilha é alvo de operação policial
O bairro voltou ao noticiário recentemente com a deflagração da Operação Illudere, conduzida pela Polícia Civil e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo. A investigação revelou um esquema de extorsão a clientes de casas noturnas, que movimentou R$ 1,2 milhão em cerca de um ano. Segundo as autoridades, 27 suspeitos foram identificados. Dez pessoas foram presas e dois adolescentes apreendidos na última terça-feira (15). As vítimas eram mantidas em cárcere privado até realizarem pagamentos exigidos pela quadrilha.

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