Farinha Lima
Publicado em 09/07/2025, às 07h00 Foto: Imagem feita por IA Farinha Lima
Na última semana, integrantes da Frente Povo Sem Medo invadiram a sede do Itaú BBA na Faria Lima. Munidos de cartazes clamando “Chega de mamata” e “Taxação dos super-ricos já!”, os manifestantes ocuparam por duas horas o prédio mais caro do Brasil (comprado por módicos R$ 1,5 bilhão), num protesto que mirava menos o cafezinho do banco e mais a plateia do Congresso Nacional. Segundo a turma de esquerda, o objetivo era denunciar a “injustiça tributária” e exigir que os endinheirados finalmente paguem imposto como gente grande — enquanto o povão segue brigando pra pagar aluguel e a marmita do mês.
A ação vem num momento em que Lula tenta empurrar goela abaixo do Legislativo a narrativa de “justiça tributária”, depois de ter seu decreto do IOF derrubado. De quebra, a manifestação virou vitrine para o projeto que isenta quem ganha até R$ 5 mil de IR, parada estratégica pra dar um gás na popularidade presidencial meio capenga. O Congresso, claro, virou o vilão da vez, acusado de proteger juízes, generais e figurões da Faria Lima. Enquanto isso, o Itaú — discreto como sempre — preferiu não comentar. Afinal, quem tem R$ 1,5 bilhão pra gastar num prédio pode muito bem bancar um bom isolamento acústico contra gritos de protesto.
O deputado estadual Paulo Correa Júnior (PSD) decidiu inovar no calendário paulista e protocolou um projeto para criar o “Dia dos Legendários” em 13 de abril — data do primeiro evento do grupo no estado, como se fosse um marco histórico digno de feriado. O homenageado? Um grupo cristão conhecido por cobrar de R$ 450 a R$ 81 mil para “transformar homens” em heróis caçadores, forjados em trilhas, acampamentos e sessões de suor e oração, tudo em nome de encontrar “a melhor versão de si mesmo”.
O detalhe curioso (ou preocupante) é que, no final do mês passado, um participante morreu durante um desses intensos retiros espirituais, mas isso parece não abalar o entusiasmo do deputado em eternizar a data. Entre declarações sobre homens “inquebrantáveis diante do pecado” e uma justificativa digna de roteiro de filme motivacional, a proposta ainda vai passar pelas comissões na Alesp — porque, aparentemente, São Paulo tem mesmo poucas prioridades urgentes no momento.
A subprefeitura da Lapa, comandada pelo Coronel Telhada, resolveu fazer uma viagem no tempo (e no bom senso) ao postar uma ode à Polícia Militar da ditadura, exaltando a temida Chevrolet Veraneio e aquela época em que, segundo eles, "sem documento não valia" — uma bela forma de dizer que a repressão era celebrada. A publicação durou pouco: caiu rapidinho após a chuva de críticas, mas reacendeu o debate sobre a romantização de práticas violentas e torturadoras já denunciadas pela Comissão da Verdade. Telhada, ex-comandante da Rota e fã confesso dos anos de chumbo, parece continuar fiel às suas "boas recordações", enquanto a subprefeitura silencia diante da imprensa.
A Grande São Paulo enfrenta uma onda preocupante (e repetitiva) de vandalismo: entre segunda (7) e terça (8), ao menos nove ônibus foram apedrejados, elevando para 554 o número de ataques desde 12 de junho. O método é sempre o mesmo: alguém atira uma pedra, quebra o vidro, interrompe a viagem e deixa passageiros e motoristas à mercê do susto. Empresas já calculam prejuízos de até R$ 16 mil por vidro quebrado, somando reparos e multas, e correm para reforçar os estoques de peças, como se estivessem se preparando para um cerco. Nem o ônibus que liga Congonhas a Guarulhos escapou. A polícia já prendeu três homens e apreendeu um adolescente, incluindo o suspeito de um ataque grave que deixou uma passageira com fraturas no rosto. Enquanto isso, a rotina segue, com passageiros inseguros e empresas contabilizando danos — um retrato fiel do descaso e da violência que insistem em ocupar as ruas da metrópole.