Farinha Lima
Publicado em 14/05/2025, às 07h00 Foto: Imagem feita com auxílio de IA Farinha Lima
Quem circulou pela Marginal Tietê na última segunda-feira (13) se deparou com uma cena digna de déjà-vu: a cratera aberta pela Sabesp, no dia 2 de abril, na altura da Ponte do Piqueri, voltou a dar as caras.
Depois de um mês de obras emergenciais, a Sabesp garantiu que o reparo havia sido concluído no último dia 3 de maio. No entanto, com as fortes chuvas dos últimos dias, parte do solo cedeu novamente. A concessionária informou, em nota, que o novo afundamento ocorreu devido a um recalque na pista e que não houve rompimento de adutora desta vez. Segundo a empresa, os serviços de reparo já foram retomados e devem durar cerca de 10 dias.
O episódio levanta questões sobre a qualidade dos serviços e a transparência nas obras públicas. Afinal, não é a primeira vez que uma cratera se forma em vias importantes da cidade após intervenções da companhia — que está no centro de um processo de desestatização previsto para este ano.
A ironia é que, enquanto o buraco reaparece, o debate sobre a eficiência da gestão pública (e da futura gestão privada) se aprofunda. Literalmente.
Enquanto o solo cede em vias de grande circulação, o mercado imobiliário segue firme nas alturas. Segundo levantamento divulgado nesta semana, cinco dos dez bairros mais valorizados do Brasil estão em São Paulo — com destaque para Itaim Bibi, Vila Nova Conceição e Moema. A disparidade de realidades é gritante. Em uma parte da cidade, o metro quadrado beira os R$ 20 mil e o maior problema é o barulho do helicóptero do vizinho. Na outra, um buraco no asfalto pode engolir carros e arrasar o trânsito.
O Ministério Público de São Paulo abriu uma investigação para apurar a suposta privatização de espaços públicos no Parque Ibirapuera. A denúncia surgiu após a implementação de áreas pagas dentro do parque, incluindo banheiros e atrações administradas pela empresa concessionária que assumiu a gestão do local.
Embora a concessão tenha sido vendida como solução moderna para revitalizar o parque e ampliar os serviços, a cobrança por estruturas antes públicas acendeu o alerta. A promotoria vê indícios de que o espaço vem se transformando, na prática, em um shopping a céu aberto — onde até para sentar na sombra é preciso checar se está dentro da área livre.
E em mais um retrato cruel das contradições da capital, uma estudante negra e bolsista foi internada após sofrer episódios de racismo em uma escola de elite da Zona Oeste. Segundo relatos da família, a jovem foi alvo de agressões verbais e físicas por parte de colegas, e a situação teria sido ignorada pela direção da escola até o caso vir a público.
A instituição, claro, divulgou nota dizendo que “repudia qualquer forma de preconceito” e que está apurando os fatos. Enquanto isso, a adolescente precisou de atendimento hospitalar devido a uma crise emocional intensa.
O caso escancara o abismo entre o discurso de diversidade tão celebrado por algumas instituições e a prática cotidiana, onde alunos periféricos e negros ainda enfrentam barreiras invisíveis — e outras bem evidentes.