Polícia

Homem que invadiu a jaula carrega passado díficil e sonho de ser domador de leões; entenda

A morte de Gerson de Melo Machado reacende o debate sobre a fragilidade das políticas públicas para jovens em vulnerabilidade extrema.  |  Foto: Reprodução/Acervo Pessoal

Publicado em 01/12/2025, às 08h35   Foto: Reprodução/Acervo Pessoal   Fernanda Montanha

A morte de Gerson de Melo Machado, de 19 anos, conhecida após ele entrar no recinto de uma leoa em João Pessoa, reacendeu discussões sobre a fragilidade das políticas públicas voltadas a jovens em vulnerabilidade extrema.

O caso, registrado no último domingo, revelou uma vida marcada por desamparo, rejeição e transtornos não diagnosticados a tempo.

No centro da história está a conselheira tutelar Verônica Oliveira, que acompanhou o garoto durante grande parte da infância e afirma que ainda tenta processar o que aconteceu, dizendo estar profundamente abalada com o desfecho.

Infância interrompida e ausência de cuidados

Gerson cresceu em condições que fugiam completamente ao mínimo de estrutura familiar. Filho de uma mulher com esquizofrenia e criado em um ambiente permeado por instabilidade emocional e pobreza intensa, o garoto passou a ser acompanhado pela rede de proteção quando tinha apenas 10 anos.

Ao ser encontrado pela Polícia Rodoviária Federal caminhando sozinho por uma rodovia federal, ele foi encaminhado ao Conselho Tutelar, onde começou seu longo histórico de acolhimento. A falta de referência familiar permeava todas as etapas da vida dele, relata Verônica.

Embora afastada legalmente por não ter condições de assumir os cuidados do filho, a mãe ainda era procurada por ele com frequência. Gerson saía dos abrigos e caminhava até a casa da família na tentativa de retomar um vínculo que nunca conseguiu se consolidar. A conselheira recorda episódios em que a própria mãe dizia não ter condições emocionais para cuidar do garoto.

Segundo o Metrópoles, os irmãos foram adotados, mas Gerson permaneceu no acolhimento institucional. Para Verônica, isso ocorreu porque havia suspeitas de transtornos psiquiátricos ainda não diagnosticados.

Ela afirma que muitos adotantes rejeitam crianças com sinais de sofrimento emocional, o que limita drasticamente as chances dessas crianças encontrarem um lar.

Sonho fixo e sinais ignorados

Durante anos, Gerson alimentou o desejo de conhecer a África e conviver com leões, repetindo a fantasia em inúmeras conversas. Em um episódio emblemático, tentou acessar clandestinamente o trem de pouso de um avião, o que evidenciou riscos graves deixados sem acompanhamento adequado.

Verônica conta que apenas quando o adolescente entrou no sistema socioeducativo recebeu um diagnóstico formal, apesar dos alertas frequentes da equipe do Conselho Tutelar. Ela lembra ter contestado pareceres médicos que minimizavam o quadro dele, o que gerava tensão em reuniões técnicas.

O ataque e a investigação

A Prefeitura de João Pessoa informou que Gerson escalou uma estrutura alta, atravessou barreiras de proteção e alcançou o espaço onde o animal estava. Após o ataque, o zoológico foi fechado para apuração das circunstâncias e para garantir a segurança dos demais visitantes.

Polícia Militar e órgãos periciais foram acionados e, até o momento, não há previsão de reabertura do local. A administração municipal afirma seguir todos os protocolos exigidos.

Para quem acompanhou a trajetória de Gerson, a tragédia resume uma vida inteira de falhas institucionais. Nas palavras de Verônica, “ele sonhava domar leões, mas nunca recebeu o cuidado que precisava para entender seus limites”.

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