Farinha Lima
por Farinha Lima
Publicado em 30/04/2025, às 07h00
A elite de SP, acostumada a acreditar que muros altos e câmeras de última geração afastam a pobreza, agora descobre que o crime não respeita nem o CEP. Na última sexta (25), cinco homens invadiram uma casa no Jardim Paulista e levaram R$ 1,5 milhão em joias, um Jeep Commander, um celular e, para manter o espírito decorativo, até uma espingarda fake. Dias antes, outra quadrilha — equipada com pistolas e fuzil — já tinha feito a limpa no Morumbi. Segundo a Verisure, só no primeiro semestre de 2024 foram 51 invasões em bairros como Moema, Pinheiros e Jardim Paulistano.
Os gestores de risco dos bancões só têm conseguido dormir quando sonham com o presidente do Banco Central. Gabriel Galípolo surpreendeu os financiadores do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) por assumir a postura de xerife, de chapéu e tudo, no caso do quase-insolvente Banco Master. O presidente do BC deixou claro que quer uma solução definitiva, nada a conta-gotas. A pressão funcionou e colocou o controlador do banco, Daniel Vorcaro, em uma corrida contra o tempo para evitar uma intervenção no Master.
A poucos passos da Faria Lima dos arranha-céus e startups, a Favela do Moinho — última grande comunidade no centro de São Paulo — vive seus últimos dias. O governo do estado deu início ao plano de remoção para construir o futuro Parque do Moinho, vendendo a proposta como revitalização urbana e melhoria da qualidade de vida. Na prática, 86% das famílias já aderiram ao programa da CDHU, que oferece um auxílio mudança de R$ 2.400 e moradias populares financiadas. A Associação de Moradores, no entanto, denuncia condições pouco compatíveis com a realidade das famílias: kitnets pequenas, financiamentos longos e subsídios que não garantem permanência na região central. De um lado, o governo argumenta que a remoção é necessária para reduzir riscos em uma área insalubre. Do outro, quem vive no Moinho teme ver sua história apagada em nome de projetos que não os contemplam. No tabuleiro do novo centro paulistano, parece que o espaço para quem sempre esteve ali vai se tornando cada vez menor.
Enquanto a América Latina tenta limpar as lágrimas do mercado imobiliário, São Paulo segue desfilando seu complexo de vira-lata de luxo. Na Faria Lima, o metro quadrado AAA já ultrapassa os R$ 300 e, em vez de crise, tem fila de espera para alugar laje corporativa. A Cushman & Wakefield aponta uma alta de 12% nos preços e uma vacância que mal aparece no microscópio. Enquanto Buenos Aires, Bogotá e Santiago seguem no modo "chorando no banheiro", aqui a farra de bancos, gestoras e fintechs segue firme — decorando as lajes com mobília de grife.
A prefeitura de São Paulo mostrou que aprendeu bem a cartilha da contenção: em 2026, o governo vai investir 14% menos em obras e serviços. A previsão da nova farofa orçamentária é de R$ 13,3 bilhões — um corte de mais de R$ 2 bilhões em relação a este ano. O plano está embalado na velha conversa fiada sobre "responsabilidade fiscal" e "otimização de recursos". Na prática, a cidade que já tropeça em buracos e ônibus lotados pode se preparar para afundar de vez. Se hoje, com R$ 15,4 bilhões, São Paulo já parece um cenário de filme B, imagina com a tesoura passando solta?
Semanalmente, a coluna Farinha Lima revela notas impublicáveis sobre o Condado mais influente da economia brasileira — bastidores, personagens e tudo o que acontece, nem sempre de forma republicana, entre cafés artesanais e planilhas abertas na Faria Lima.
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