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Polícia investiga ligação entre dirigentes do Corinthians e o PCC em caso de lavagem de dinheiro; confira

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Relatórios bancários e quebras de sigilo indicam envolvimento de empresa citada em delação contra o PCC  |   BNews SP - Divulgação Foto: Jozzu/Agência Corinthians e reprodução/redes sociais
Isabela Fernandes

por Isabela Fernandes

Publicado em 16/05/2025, às 08h00



O Corinthians anunciou, em janeiro de 2024, um contrato histórico com a casa de apostas VaideBet, considerado o maior patrocínio máster do futebol brasileiro até então. Poucos meses depois, a Polícia Civil de São Paulo passou a investigar o contrato milionário por suspeitas de lavagem de dinheiro e pode ter conexões com o Primeiro Comando da Capital (PCC).

As investigações revelaram que cerca de R$ 1,4 milhão, pagos em comissão, foram desviados por meio de empresas de fachada. O dinheiro, segundo a Delegacia de Repressão à Lavagem de Dinheiro, circulou por contas suspeitas após a quebra de sigilo bancário dos envolvidos.

A empresa Rede Social Media Design, do publicitário Alex Cassundé, recebeu o montante em duas transferências de R$ 700 mil, realizadas em março de 2024. Cassundé é apontado como o intermediário entre o Corinthians e a VaideBet. 

De lá, o dinheiro foi transferido para a Neoway Soluções Integradas, cuja sócia, Edna Oliveira dos Santos,  diz não saber do que se trata o caso.

A cadeia de transações continuou. A Neoway repassou cerca de R$ 1 milhão para a Wave Intermediações Tecnológicas, que, por sua vez, transferiu cerca de R$ 870 mil para a empresa UJ Football Talent Intermediação. 

Esta última foi mencionada em delação feita por Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, empresário que colaborava com o Ministério Público e denunciou o envolvimento do grupo criminoso PCC. Gritzbach foi assassinado em novembro de 2024, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, antes de prestar novos esclarecimentos.

Delação, crime organizado e empresas de fachada

De acordo com Gritzbach, a UJ seria controlada por Danilo Lima, conhecido como “Tripa”, apontado como membro do PCC. Danilo já havia sido investigado anteriormente por envolvimento no sequestro do próprio delator em 2022.

As transferências financeiras chamaram atenção dos investigadores pela estrutura típica de lavagem de dinheiro, com valores passando por diversas empresas que agora estão sendo analisadas. 

A polícia e o GAECO, grupo do Ministério Público focado em organizações criminosas, apuram se houve a participação ativa de dirigentes do clube no processo ou se o Corinthians foi utilizado como ponte para transações ilícitas.

Depoimentos contraditórios e crise no clube

O presidente Augusto Melo, além dos dirigentes Marcelo Mariano e Sérgio Moura, prestaram depoimento às autoridades em abril. Os relatos foram contraditórios, especialmente sobre como Cassundé foi apresentado à VaideBet. Nenhum deles apresentou provas concretas sobre a formalização da parceria.

A defesa de Cassundé, por sua vez, alega que ele agiu com total transparência e que sua empresa foi escolhida por critérios internos do clube, após já ter trabalhado em outras campanhas. Sua defesa afirma que ele não tinha conhecimento sobre as demais empresas envolvidas no repasse do dinheiro.

O clube, em nota, afirmou que não tem responsabilidade sobre o que terceiros fazem com valores recebidos e que está colaborando com as investigações. 

A VaideBet rompeu o contrato com o clube em junho de 2024, alegando violação de cláusula anticorrupção após denúncias sobre o uso de possíveis “laranjas” no processo.

Impeachment de presidente e próximos passos

Diante da gravidade das denúncias, o Conselho Deliberativo do Corinthians marcou para 26 de maio a votação do impeachment do presidente Augusto Melo. Uma primeira tentativa de afastamento aconteceu em janeiro, mas a sessão foi suspensa após votação apertada (126 a 114 a favor da admissibilidade).

A Polícia Civil deve concluir o inquérito até o fim de maio. Os crimes investigados envolvem lavagem de dinheiro e associação criminosa, mas estão sendo investigados. O caso segue sob segredo de Justiça.

Enquanto isso, o Corinthians nega as alegações, afirmando ser vítima de terceiros e reafirmando seu compromisso com a transparência. Mas a crise pode ter consequências políticas e criminais nos próximos meses.

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