Polícia

Onda de assaltos em lojas 24h impõe ‘toque de recolher’ ao varejo em São Paulo

Escalada de assaltos e furtos força redes a abandonarem modelo 24 horas e expõe trabalhadores ao risco na madrugada paulistana  |  Foto: Divulgação/OXXO

Publicado em 12/12/2025, às 11h59 - Atualizado às 11h59   Foto: Divulgação/OXXO   Bianca Novais e Marcela Guimarães

Conhecida como “a cidade que nunca dorme”, São Paulo vive uma crise na vida noturna devido a, entre outros problemas, a onda de violência contra trabalhadores e clientes em estabelecimentos 24 horas, como farmácias e lojas de conveniência.

A antiga rotina de pequenos furtos oportunistas em comércios deu lugar à ação de quadrilhas especializadas, muitas vezes armadas e violentas, aumentando a insegurança e diminuindo a quantidade de locais abertos durante a madrugada.

Já fui gerente de farmácia. A última filial em que trabalhei foi assaltada 8 vezes em menos de 2 meses. O ápice da tragédia? Fiz o Boletim de Ocorrência (B.O.) de um assalto na madrugada anterior e, no dia seguinte, roubaram minha mochila com o PRÓPRIO B.O. dentro.

— Lucazs Henrique (@Luquehaus) November 20, 2025

De janeiro a outubro de 2025, a Grande São Paulo registrou 17 casos de lojas de conveniências vítimas de furto ou assalto entre 00h e 06h.

Segundo levantamento realizado pela reportagem do BNews São Paulo, no total, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP) contabilizou 430 boletins de ocorrência nesses parâmetros; 284 apenas na capital e 198 só em farmácias/drogarias.

Crimes avançam sobre bairros de alto padrão

Os dados analisados contestam o mito de que a violência está presente apenas nas regiões periféricas: bairros nobres lideram as estatísticas.

A Zona Oeste concentra o maior volume de ocorrências na capital, com destaque para bairros como Perdizes e Pinheiros. A rua Cardoso de Almeida é campeã em insegurança neste ano, com seis denúncias, das quais cinco foram de farmácias.

Em novembro de 2025, segundo a SSP-SP, a Polícia Militar prendeu em flagrante dois assaltantes em uma farmácia nos Jardins, um dos m² mais caros de São Paulo. O caso ilustra o aumento em 65% de roubos (mediante ameaça ou violência) a esses estabelecimentos em comparação com furtos simples.

Já na Grande São Paulo, o cenário é crítico em Guarulhos, Osasco e São Caetano do Sul, que figuram no topo do ranking de cidades mais afetadas fora da capital.

Ainda em 2025, a Drogaria São Paulo e a LVL criaram um projeto especial contra a violência noturna, mantendo as luzes acesas de madrugada em unidades localizadas próximas a pontos de ônibus (Foto: Divulgação/Drogaria São Paulo)

Canetas emagrecedoras viram alvo de quadrilhas

O aumento da violência durante a madrugada, em especial contra farmácias, não é aleatório.

Em setembro de 2025, o Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos (Sincofarma) emitiu um alerta formal sobre o aumento de roubos focados exclusivamente em medicamentos de alto custo, como as canetas emagrecedoras (Ozempic, Mounjaro e similares) e dermocosméticos.

O alto valor de revenda e a rastreabilidade complexa destacam esses produtos no critério de “risco-benefício”.

Além do foco no produto, surge a industrialização do crime. A SSP-SP divulgou, em agosto deste ano, uma operação da Polícia Civil que desmantelou uma quadrilhaespecializada em roubos de remédios para emagrecimento em farmácias. Esses grupos agem com rapidez cronometrada (entre 1 e 3 minutos), muitas vezes armados e com veículos para fuga.

Serviços 24 horas podem chegar ao fim?

Antes da febre das canetas emagrecedoras, lojas de conveniência já sofriam com esse tipo de crime. A rede OXXO, que chegou em 2020 mas só ganhou força no Brasil em 2024, também se viu obrigada a mudar seu modelo de negócios — oferecer produtos básicos de mercado 24 horas por dias — devido à onda de assaltos que dezenas de unidades, tanto na capital quanto no interior, enfrentaram no mesmo ano.

Em maio de 2025, pelo menos 20 unidades passaram a encerrar as atividades até 23 horas.

Trabalhadores ficam mais expostos à violência

Na linha de frente, trabalhadores do turno da madrugada, sindicatos como o Sinfar-SP (Sindicato dos Farmacêuticos) e a Fecomerciários têm denunciado a vulnerabilidade das equipes.

No caso da rede de mercados OXXO, muitos trabalham sozinhos ou em duplas durante a madrugada, sem seguranças; um reflexo da redução de equipes como estratégia de contenção de custos.

Diante da escalada da violência, redes como Drogasil, Carrefour Express e OXXO buscaram alternativas para garantir segurança, criando barreiras físicas e digitais:

O que diz a Secretaria de Segurança Pública?

Em nota enviada ao BNews São Paulo, a SSP-SP cita o assalto na farmácia dos Jardins como exemplo positivo de atuação da PM e destaca números de prisões, apreensões e de valor em reais de itens recuperados em operações contra assaltos, mas não menciona mortes causadas por policiais ou criminosos.

Confira na íntegra:

“As polícias Civil e Militar seguem empenhadas no enfrentamento aos roubos e furtos em estabelecimentos comerciais, incluindo farmácias, com ações contínuas de prevenção, investigação e repressão. A Polícia Civil mantém apurações para identificar e desarticular grupos especializados nesse tipo de crime. Delegacias têm realizado prisões, cumprimentos de mandados e apreensões que contribuem para a responsabilização criminal dos envolvidos.

Como resultado dos esforços empreendidos, a Polícia Militar prendeu três homens, de 18, 23 e 24 anos, e recuperou cerca de R$ 120 mil em canetas emagrecedoras roubadas de uma farmácia na região do Jardim Paulista, zona oeste da capital paulista, na noite do último dia 25. O trio foi encaminhado ao 78º Distrito Policial (Jardins), onde permaneceu à disposição da Justiça.

De janeiro a outubro de 2025, a atuação policial resultou na prisão de cerca de 70 adultos, apreensão de 8 adolescentes e recuperação de mais de R$ 1,2 milhão em produtos e medicamentos, especialmente canetas emagrecedoras. Além disso, o combate aos crimes patrimoniais tem sido prioridade, o que já permitiu reduzir os roubos em geral em toda a capital, alcançando o menor patamar em 25 anos”.

A reportagem solicitou também um posicionamento do Sindicato dos Comerciários de São Paulo (SECSP) sobre a crise de segurança em estabelecimentos 24 horas, mas não obteve retorno até a data da publicação. O espaço segue aberto.

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