Entretenimento
por Isabela Fernandes
Publicado em 08/06/2025, às 08h00
Enquanto o centro de São Paulo é agitado, alguns bairros mais afastados têm uma rotina completamente diferente: silenciosa, verde e, para muitos moradores, até surpreendente.
Apesar da falta de infraestrutura e do difícil acesso, essas regiões se tornaram um refúgio para quem busca sossego, mesmo que à custa da conexão com o restante da cidade.
Na Zona Leste, o bairro Colônia Paulista é um exemplo claro desse cenário. Criado originalmente como uma colônia de imigrantes alemães em 1829, o local teve o nome alterado em 1952, quando a empresa inglesa responsável pela Estrada de Ferro São Paulo–Santos se recusou a manter a referência à origem alemã.
Desde então, o bairro é conhecido como Colônia Paulista. Rodeado por vegetação e afastado cerca de 40 km do centro, a região é marcada por ruas silenciosas, noites sem barulho e uma sensação constante de estar longe da metrópole.
Apesar do ambiente calmo, os moradores enfrentam obstáculos diários. O transporte público é limitado e o retorno para casa pode ser complicado, devido à mão única da Marginal.
O isolamento geográfico é acentuado por barreiras físicas: de um lado, um braço do Rio Tietê; do outro, a linha férrea e empresas que dificultam a integração com outras áreas.
Outro bairro vizinho, o Jardim Keralux, surgiu após a falência da fábrica de revestimentos cerâmicos Keralux S/A, nos anos 1970. Com a área abandonada, grileiros ocuparam e venderam terrenos de forma irregular.
Os moradores, que vivem sob ameaça de reintegração de posse, lutam há décadas por moradia digna e regularização fundiária. Embora o campus da USP Leste tenha sido implantado com a promessa de fortalecer o vínculo com a comunidade da Zona Leste, esse objetivo ainda está distante da realidade local, mesmo após 17 anos.
Na zona norte da cidade, bairros como Vila Amélia e Vila Fiat Lux reforçam o retrato do isolamento urbano. Rodeados por mato e escondidos por acessos estreitos e pouco sinalizados, esses locais são frequentemente descritos como difíceis de encontrar por visitantes.
A tranquilidade, no entanto, é o que mais atrai os moradores: ausência de ruídos, pouco movimento e uma forte sensação de segurança. Por outro lado, a escassez de comércio e serviços básicos exige deslocamentos constantes para atividades simples, como ir à padaria.
Para quem vive nesses bairros, a tranquilidade é vista como um privilégio raro na cidade de São Paulo. Mas ela vem acompanhada do sentimento de exclusão e da falta de atenção do poder público.
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