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O longa-metragem “Sonhos de Trem” chegou à Netflix em 21 de novembro e, como destaca a Flixlandia, já desponta como forte candidata à temporada de premiações, em especial ao Oscar.
Dirigido por Clint Bentley ("Sing Sing", 2023) e estrelado por Joel Edgerton ("O Grande Gatsby", 2013) e Felicity Jones ("O Brutalista", 2024), o filme é uma adaptação do livro de mesmo nome, escrito por Denis Johnson, e acompanha Robert Grainier, operário ferroviário cuja existência simples é atravessada pelo luto e pela modernização acelerada dos Estados Unidos no início do século XX.
A obra se constrói como um mosaico de memórias, articulado pela narração de Will Patton (“Armageddon”, 1998), que revela emoções que Robert nunca verbalizaria.
A rotina pacífica do protagonista é destruída quando um incêndio consome o vale onde vivia, levando sua esposa Gladys (Jones) e a filha bebê Katie, cujos corpos jamais foram encontrados. Esse vazio impede Robert de aceitar a morte e transforma o luto em hábito.
Outro trauma que molda a vida do personagem é a morte de Fu Sheng (Alfred Hsing), trabalhador chinês assassinado durante uma obra ferroviária.
No filme, Robert presencia a violência, mas não consegue impedi-la. A omissão se converte em culpa profunda e, posteriormente, em crença de que a tragédia familiar seria uma punição pelo passado.
Fu Sheng passa a acompanhá-lo como fantasma simbólico, ecoando a exclusão e a violência que marcaram a construção dos Estados Unidos.
Anos após o incêndio, doente e isolado, Robert sonha com fogo e acredita que Katie poderia ter sobrevivido. Pouco depois, uma menina ferida surge em sua porta. Ele a cuida e projeta nela a imagem da filha perdida.
A trama explora a ambiguidade: a garota pode ser tanto a criança real quanto manifestação do delírio e da esperança. A fuga dela pela janela no dia seguinte simboliza a impossibilidade de recuperar totalmente o passado e a necessidade de reinventá-lo para seguir vivo.
Nos momentos finais, Robert se reconcilia com o mundo que avançou sem ele. A cena em que ele observa a imagem de um astronauta em Spokane revela o contraste entre seu universo rural e o futuro tecnológico que ajudou a construir. “Somos nós”, diz uma mulher, lembrando-o de que a humanidade segue, mesmo quando ele para.
O desfecho chega no voo de biplano: a passagem da terra ao céu, da matéria ao espírito. É nesse instante que Robert percebe, pela primeira vez, que sua vida, embora silenciosa, pertence a algo maior.
Classificação Indicativa: Livre