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O Cineasta norte-americano Paul Thomas Anderson transforma em cinema os fantasmas da contracultura americana dos anos 60 e mostra como eles ainda assombram o presente com o filme “Uma Batalha Após a Outra”.
“Uma Batalha Após a Outra” nasce da sensação de que a história política se repete. Paul Thomas Anderson adapta Vineland, de Thomas Pynchon, para explorar ciclos de conflito ideológico, vigilância estatal e resistência que atravessam décadas.
No livro, um grupo revolucionário fictício o French 75 é destruído pela interferência federal e por suas próprias contradições internas. No filme, essa herança de derrotas políticas ganha novos rostos e dilemas contemporâneos.
A trama acompanha Bob Ferguson (o ex-radical “Ghetto Pat”), que vive isolado após ver seus ideais ruírem. Sua filha, Willa, cresce entre as ruínas desse passado, enquanto o antagonista Lockjaw encarna a repressão moderna um líder movido pelo desejo de controle ideológico, sustentado por milícias e políticas de ódio.
Embora ambientado no presente, o filme carrega o espírito dos anos 60, quando o FBI e a CIA infiltravam e desmantelavam grupos radicais nos EUA. O eco desse período é evidente: as repressões não acabam com o fechamento de uma célula, mas persistem na memória coletiva, no trauma e nas relações humanas.
Anderson transforma essa herança política em drama íntimo. Bob paga caro por seu ativismo abortado não apenas com o exílio e o medo, mas com a distância da filha e a culpa pela derrota de uma geração. O diretor também atualiza o tema da vigilância: agentes infiltrados, chantagens e espionagem cotidiana refletem não só o passado do programa COINTELPRO, mas também os dilemas atuais sobre privacidade e autoritarismo disfarçado de segurança.
O longa fala sobre perdas de ideais, amores e identidade. A promessa de uma mudança radical, tão viva nos anos 60, se desfaz entre a repressão e o consumo que transforma a revolta em produto. “Uma Batalha Após a Outra” não tenta recontar a história, mas reinterpretá-la: mostra como as batalhas políticas nunca acabam, apenas mudam de cenário e linguagem.
Ao revisitar os ecos de Pynchon, Anderson sugere que o passado ainda respira. E que, em meio a novas formas de poder e controle, antigas perguntas sobre justiça, liberdade e resistência continuam sem resposta.
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