Farinha Lima
por Farinha Lima
Publicado em 18/06/2025, às 06h00
Uma jornalista que já apareceu nas telas da Globo, Cultura e Record, e que hoje se dedica a investigar “milagres” e manifestações divinas, foi parar atrás das grades no último sábado (14), após uma discussão homofóbica em uma cafeteria do shopping Iguatemi, em São Paulo. Aos 61 anos, a profissional — que mantém perfis espirituais nas redes e afirma reunir ensinamentos de diversas doutrinas — foi filmada chamando um homem de “pobre” e “bicha nojenta”. O vídeo viralizou, e a prisão em flagrante veio em seguida.
Solta após audiência de custódia no domingo (15), com direito a proibição de pisar novamente no shopping e outras medidas cautelares, ela parece ter entendido tudo errado: poucas horas depois, voltou a ser flagrada xingando três vizinhos gays em Higienópolis, bairro nobre da capital. Chamou os rapazes de “boiolas depilados” e disse que formavam uma “gaiola das loucas”. A reincidência acendeu o alerta da Justiça, que agora pode reconsiderar a fé na recuperação dessa alma, digamos, um tanto descontrolada.
A febre do beach tennis na Faria Lima pode estar com os dias contados — mas calma, não é falta de público nem rivalidade nas quadras. O que ameaça a areia e as raquetes é o apetite imobiliário: a Prefeitura de São Paulo vai leiloar, em agosto, terrenos onde ficam algumas das quadras mais valorizadas da região. Prepare-se para ver prédios de luxo e escritórios de altíssimo padrão tomando o lugar dos saques e smashs. O que era o paraíso dos amantes do esporte ao ar livre, entre Pinheiros e Vila Olímpia, corre o risco de virar mais um ponto do circuito corporativo paulistano. Ou seja, quem quiser bater bola vai ter que correr — ou se contentar com a paisagem de vidro e concreto no lugar da areia. Afinal, praia na Faria Lima, por enquanto, só no nome.
A cena tinha trilha sonora épica, cruz em chamas, drones e até PMs perfilados em ritual noturno digno de clipe da Ku Klux Klan — mas, para o Ministério Público de São Paulo, era só uma encenação simbólica, sem crime nem infração. O 9º Baep, batalhão de elite da PM no interior paulista, virou assunto nacional (e até internacional) depois que divulgou o vídeo da cerimônia de formatura com estética supremacista. A publicação sumiu das redes em minutos, mas ficou tempo suficiente para gerar investigação e denúncia até na ONU.
O MP, porém, decidiu arquivar tudo. Nem gesto suspeito, nem cruz queimando, nem produção cinematográfica foram suficientes para convencer a promotoria de que havia algo de errado. Segundo o batalhão, a cruz flamejante representa apenas a superação dos novos recrutas, e qualquer semelhança com rituais de ódio é pura coincidência interpretativa.
Depois do hype das pautas woke nas grandes empresas — que surfaram a onda da diversidade, mas já começaram a pular fora do barco —, um novo movimento vem tomando corpo no mundo corporativo: o das Empresas Biblicamente Responsáveis (EBR), que, como o nome sugere, se guiam por princípios cristãos para tomar decisões éticas, cheias de propósito e, por que não, divinamente estratégicas; nos Estados Unidos, o modelo já reúne mais de 25 mil empresas, e no Brasil, onde 86% da população se declara cristã e a Faria Lima adora uma tendência com narrativa, cerca de 400 empresas já adotam esse tipo de gestão que mistura Bíblia e planilha — afinal, nada mais contemporâneo do que CEOs citando provérbios na hora do pitch.
As pesquisas eleitorais, que costumam ser motivo de festa para políticos em alta, viraram dor de cabeça para o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que vê cada novo número favorável alimentando a pressão para que troque a reeleição em São Paulo por uma candidatura à Presidência em 2026 — mesmo ele repetindo que seu foco é seguir no Palácio dos Bandeirantes e que o “candidato natural” da direita ainda é Bolsonaro (aquele, o inelegível até 2030); na última pesquisa Quaest, Tarcísio apareceu colado em Lula num eventual segundo turno (40% a 41%) e, com isso, ganhou manchetes, especulações e olhares de aliados ansiosos por um novo salvador eleitoral, enquanto tenta equilibrar a agenda estadual com a fama nacional — porque nada como dizer “não sou candidato” e ser lembrado disso toda vez que sobe nas pesquisas.
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