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Diagnóstico inesperado: homem descobre câncer após transplante de fígado em SP

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Especialistas alertam que, embora raro, o risco de câncer oculto em transplantes é real, destacando a importância de exames rigorosos.  |   BNews SP - Divulgação Foto: Reprodução/Redes Sociais
Fernanda Montanha

por Fernanda Montanha

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Publicado em 17/10/2025, às 08h14



A história de Geraldo Vaz Junior, de 58 anos, trouxe à tona um episódio extremamente incomum na medicina. Em março de 2023, o técnico de eletrodomésticos recebeu um fígado transplantado que, sem que ninguém soubesse, continha células cancerígenas que mais tarde deram origem a um adenocarcinoma e, posteriormente, a uma metástase nos pulmões.

A descoberta ocorreu meses depois, por meio de uma série de exames aprofundados, incluindo testes genéticos que mostraram que o tumor não era do próprio paciente. O DNA confirmou que o câncer veio junto com o órgão doado, algo considerado raríssimo em protocolos de transplante.

Do transplante à descoberta do tumor

Geraldo aguardava há anos na fila de transplantes, em razão de uma cirrose causada por hepatite C. O procedimento foi realizado no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, por meio do Programa Proadi-SUS, que conecta pacientes do Sistema Único de Saúde a hospitais de excelência.

Sete meses após a cirurgia, em março de 2024, exames de imagem revelaram seis nódulos no novo fígado. A biópsia indicou adenocarcinoma, um dos tipos mais comuns de câncer em adultos.

A análise genética mostrou diferenças entre o DNA do sangue e o das células tumorais, apontando que a origem da doença era da doadora do órgão.

Foto:Reprodução/Freepik
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Evolução rápida e busca por respostas

O câncer se espalhou rapidamente para os pulmões, levando Geraldo a um retransplante em maio de 2024. O segundo órgão, no entanto, foi rejeitado, e ele iniciou tratamento paliativo em outubro.

Sem respostas das instituições responsáveis, a esposa, Márcia Helena Vaz, começou uma campanha pública nas redes sociais e nas ruas de São Paulo, exigindo esclarecimentos sobre o caso.

Em carta aberta, o casal descreveu a situação como “devastadora”, destacando a falta de contato institucional após o diagnóstico e pedindo justiça para que outros pacientes não passem por algo semelhante.

Risco mínimo, mas existente

Especialistas ouvidos pela CNN afirmam que, embora extremamente improvável, células malignas podem passar despercebidas nos exames de triagem e se desenvolver no corpo do receptor devido ao uso de imunossupressores. O oncologista Fábio Kater explicou que o fígado é um dos órgãos mais suscetíveis à metástase, pois atua como um filtro do organismo.

A médica Silvia Ayub acrescentou que alguns tumores são tão pequenos que não aparecem em exames de imagem, tornando impossível garantir risco zero.

Protocolos seguidos e investigação em andamento

Segundo o Manual dos Transplantes do Ministério da Saúde, pacientes com câncer não podem doar órgãos, e há uma triagem clínica, laboratorial e por imagem rigorosa. Porém, o próprio documento reconhece que nenhum exame consegue eliminar completamente o risco quando células malignas estão em estágio inicial.

O Ministério da Saúde informou que todos os protocolos foram cumpridos e que acompanha o caso em conjunto com a Central Estadual de Transplantes e o hospital. Até o momento, os exames não são conclusivos sobre a origem da doença.

O Hospital Albert Einstein não divulgou nota oficial, mas afirmou que o paciente segue em acompanhamento médico.

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