Política

'Perdi tudo’: franqueados da Cacau Show relatam dívidas milionárias

Atualmente, o Brasil possui mais de 4 mil lojas da Cacau Show espalhadas pelo território. - Foto: Reprodução
A empresa de doces é acusada de prever punições para quem questiona as normas e problemas contratuais, alguns recebendo ameaças.  |   BNews SP - Divulgação Atualmente, o Brasil possui mais de 4 mil lojas da Cacau Show espalhadas pelo território. - Foto: Reprodução
Camila Lutfi

por Camila Lutfi

Publicado em 02/06/2025, às 10h40



Em novos relatos de franqueados da Cacau Show e também ex-franqueados revelam um grande problema instituicional que gera dívidas e um ambiente parecido com uma "seita". 

De acordo com eles, a empresa de doces prevê punições para quem questiona as normas e problemas contratuais, alguns recebendo ameaças. Os relatos foram divulgados em um perfil nas redes sociais chamado de "Doce Amargura" e também em entrevista à coluna de Gabriella Furquim no Metrópoles

Diferente da realidade apresentada por Alexandre Tadeu da Costa, ou Alê Costa, fundador e CEO da Cacau Show, nas redes sociais e entrevistas, franqueados relatam que são perseguidos caso questionem, por exemplo, cobranças ou mudanças no valor dos produtos.

Quando reclamam, as franquias passam receber chocolates com a validade perto de expirar e produtos com pouca saída, o que dificulta as vendas e podem forçar os microempreendedores a fecharem as portas. Atualmente, o Brasil possui mais de 4 mil lojas da Cacau Show espalhadas pelo território.

Irene Angelis, ex-franqueada há quase uma década, chegou a ter seis lojas da rede e vê o endividamento dos franqueados como uma indústria. “A sensação que eu tenho é que quanto mais franqueado quebrar, mais loja ele vai repassar, vai ganhar taxa de franquia, vai ganhar juros. Virou uma indústria. E ele lucra com tudo. Ficou bilionário deixando um rastro de pessoas quebradas”, revela.

Ao Metrópoles, ela ainda contou que perdeu R$ 3 milhões desde que começou a trabalhar na rede Cacau Show. Irene ficou doente, desenvolveu síndrome do pânico e insuficiência cardíaca.

Discursos motivacionais

Muitos também revelaram, em anonimato, que o CEO da empresa oferecia discursos motivacionais para aqueles que tinham dificuldades, antes de começar a "perseguição". Ao invés de planos de negócios, ou apoio financeiro nos contratos, as consultorias não traziam ajudas úteis.

Outra franqueada contou que, ao pedir ajuda da consultora que atendia sua loja, a profissional disse que a dona da loja “precisava se benzer” e insinuou que apenas essa franquia estava com problemas parecidos.

A franqueada conta que procurou cursos de formação antes de realizar o sonho de montar uma loja da Cacau Show. Peguei minhas economias, investi no sonho de ter uma loja. E, depois de três anos trabalhando feito louca, sem folga, sem férias, sem passar Natal nem Páscoa com a minha família, saí cheia de dívidas, muito abalada emocional e psicologicamente”, relata.

Além disso, após as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024, alguns franqueados relataram que a Cacau Show não mudou qualquer regra ou cobrança para aqueles que tinham perdido seus produtos pela catástrofe natural.

“A água foi até o teto. Montanhas de chocolates, móveis, eletrônicos, eletrodomésticos, louças. Tudo foi pela sarjeta”, contou uma nova franqueada. “Ao invés de qualquer apoio, recebi ligações de consultores questionando o motivo de a loja estar fechada, sem vendas.”

Para ela, a "pior parte foi a cobrança de toda a mercadoria perdida, com royalties, taxas. Não isentaram o pagamento de nada, nem um desconto”, revela.

O que diz a Cacau Show?

Na Justiça, a empresa de chocolates acumula processos por cobranças indevidas e por não fornecer produtos de forma adequada para lojas franqueadas. Para o juiz Julio Roberto dos Reis, que acompanha o processo que tramita na 25ª Vara Cível de Brasília contra a Cacau Show, punições como a retirada de crédito de franqueados é inconstitucional.

“É inequívoco que a política interna da demandada [Cacau Show] afronta o princípio constitucional da liberdade profissional, porquanto, a restrição de crédito para fornecimento exclusivo de produtos, instrumento essencial da atividade econômica, sob a alegação de existência de litígios judiciais entre franqueado e franqueadora, não está amparada em motivo idôneo e constitui mero revanchismo, uso arbitrário das próprias razões por via transversa, cuja finalidade não é outra senão inibir o legítimo direito constitucional de ação dos demandantes [franqueados], o que também viola o princípio constitucional da inafastabilidade da jurisdição”, apontou o juiz.

Cacau Show afirmou, por meio de nota, que não reconhece as alegações apresentadas pelo perfil Doce Amargura em redes sociais. Confira a nota na íntegra:

“A Cacau Show vem a público esclarecer que não reconhece as alegações apresentadas pelo perfil "Doce Amargura" em redes sociais. Somos uma marca construída com base na confiança mútua, no respeito e na conexão genuína com nossos franqueados.

Cada experiência é única e pessoal. Prezamos por relações próximas, transparentes e sempre pautadas pelo diálogo — pilares que sustentam nosso crescimento conjunto e tornam possível a construção de uma jornada empreendedora repleta de conquistas e momentos especiais.

Não compactuamos com qualquer conduta que contrarie esses valores. Seguimos firmes em nosso propósito: vivemos para, juntos, tocar a vida das pessoas, compartilhando momentos especiais.

Reiteramos que estamos, como sempre, à disposição para esclarecer qualquer ponto, com responsabilidade, integridade e respeito.”

Classificação Indicativa: Livre

Facebook Twitter WhatsApp