Entretenimento
por Marcela Guimarães
Publicado em 26/06/2025, às 18h28
Um reencontro inesperado mudou a vida de duas mulheres em situação de rua em Campinas (SP). Cristiane Duarte da Silva, de 41 anos, e Vitória Duarte Machado, de 20, descobriram que são mãe e filha após dois meses convivendo no mesmo abrigo da cidade sem saber da relação familiar.
As duas chegaram às ruas em momentos diferentes e por motivos distintos. Cristiane saiu de casa ainda na adolescência, aos 14 anos, após sofrer abuso do padrasto e não receber apoio da mãe. A jovem passou a viver em situação de rua desde então.
Ao longo da vida, teve quatro filhos. Três deles foram levados por familiares do pai das crianças, com quem ela não tem mais contato. A mais nova foi fruto de outro relacionamento.
Vitória foi criada pelos avós paternos até a morte deles; depois do episódio, passou por casas de tios e, mais recentemente, foi viver nas ruas após dificuldades familiares e falta de emprego. O pai dela também já faleceu.
Durante o período no abrigo, as duas criaram uma amizade por meio de conversas, refeições e o dia a dia, mas nunca chegaram a cogitar o laço afetivo.
Um detalhe chamou a atenção: Vitória comentou que sua mãe se chamava Cristiane. Ainda assim, as duas acreditaram ser apenas uma “coincidência”.
A revelação veio após uma reportagem de um telejornal local, que mostrava a formatura de Cristiane em cursos profissionalizantes promovidos pelo Instituto Há Esperança. O tio de Vitória reconheceu Cristiane na televisão e avisou a sobrinha, que confirmou a identidade da mãe após mostrar uma foto a ele.
Cristiane descreve o reencontro como um “choque emocional” e que sempre orou para reencontrar os filhos. Já Vitória disse que cresceu ouvindo críticas à mãe por parte da família paterna e que não podia procurá-la por conta da responsabilidade dos parentes envolvendo sua criação.
Desde que descobriram o laço de sangue, mãe e filha se apoiam, mas também enfrentam os desafios de viver nas ruas.
Cristiane deseja tirar a filha da situação atual e vê na educação uma forma de transformar a trajetória da jovem. Vitória, que concluiu os estudos, quer cursar Direito e encontrar um emprego.
O abrigo onde ficam é do Instituto Há Esperança, fundado por Robson Teixeira Gondim, que trabalha há 34 anos com pessoas em situação de rua. Ele acompanha Cristiane há duas décadas e afirma que a construção de amizades e conexões é um processo que precisa de tempo e cuidado.
A dependência química também é um desafio, já que Cristiane vive nas ruas há mais de 20 anos e acabou dedicando boa parte da vida a esse ambiente.
A instituição alugou uma casa para Cristiane e Vitória e garantiu um emprego para a mãe como parte do processo de reintegração social. O abrigo oferece assistência psicológica e social e atende mais de 1.100 pessoas por mês por meio de quatro projetos para crianças e adultos em situação de vulnerabilidade.
Para Gondim, além de medidas estruturais, é necessário acreditar no potencial de transformação das pessoas e estar presente até que isso aconteça.
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